Construções Sustentáveis: A Importância do Cobogó

cobogó

No mundo da arquitetura existem diversos elementos construtivos que, quando bem utilizados, podem tornar ambientes muito mais belos, confortáveis e funcionais. Um deles é certamente o Cobogó.

Mas o que é um cobogó e o que é possível ser feito com ele?

Leia o artigo para aprender. Mas antes…

Os Cobogós na História

O Cobogó é um elemento construtivo brasileiro, criado na década de 1920. Seu nome é batizado com as primeiras sílabas dos sobrenomes de seus criadores, Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis.

Foi criado em Recife, com o intuito de manter a ventilação natural através dos planos de parede – uma solução encontrada para auxiliar na termo regulação dos ambientes perante o calor Nordestino.

Em alguns lugares do Nordeste Brasileiro o nome cobogó sofreu variações interessantes. Alguns exemplos são comogócomogol, comungó, combobó e combogó.

Sua criação baseou-se nos Muxarabis, elementos arquitetônicos oriundos da arquitetura árabe, que permitem a ventilação e preservam a privacidade familiar.

Constitui-se em um elemento vazado, criado primeiramente em concreto e que teve sua difusão em diversos materiais como cerâmica, cimento, vidro, acrílico, PVC, resina e madeira.

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Porque o cobogó é importante

Usar cobogós é um recurso muito utilizado em estratégias que conferem maior eficiência bioclimática. A função principal é dividir ambientes e permitirem a entrada da luz natural e ventilação. A beleza do elemento é inegável nas áreas externas.

Seu uso proporciona a racionalização da construção, elencando ventilação, iluminação e controle solar como agentes de qualidade e conforto ambiental.

Empregando-o de forma adequada nos ambientes, eleva o índice de qualidade do ar através da troca constante. É recomendável para criar ambientes salubres e reduz gastos energéticos, com redução no uso da climatização artificial.

Quanto à iluminação, o uso de cobogós torna-se um ótimo dispositivo, protegendo a edificação contra a incidência direta dos raios solares, os direcionando e redistribuindo pelo ambiente.

A escolha deste elemento contribui com a uniformidade luminosa de acordo com a orientação solar em que é empregada, equilibrando a distribuição de luminâncias em superfícies internas.

Como utilizar um Cobogó?

Um cobogó pode ser utilizado em praticamente qualquer tipo de construção, seja residencial, comercial e até mesmo industrial.

Popularizado pelo modernismo nas décadas de 1950 e 1960, foi empregado em várias obras de grandes nomes da arquitetura moderna como o arquiteto Lúcio Costa. Inicialmente utilizados na composição de divisões internas e posteriormente na composição de fachadas ventiladas.

Existem diversas formas criativas para se utilizar um cobogó. O mais usual é na divisão de ambientes externos e internos, mas outras possibilidades podem ser utilizadas. A separação de ambientes internos é uma destas formas, ou mesmo a divisão entre mesmos ambientes, gerando áreas mais íntimas por meio do bloqueio visual.

O custo de uma peça de cobogó é bastante variável. Podemos encontrar modelos mais simples de até R$1,50 no valor unitário chegando até R$90,00 nos modelos com um design diferenciado e maior qualidade de acabamento. Os tamanhos também variam, partindo as 19x19cm chegando até 40x40cm.

Em relação ao acabamento, podemos encontrar desde modelos rústicos em cerâmica crua, até peças esmaltadas ou acetinadas. Destaque para os Ecoblocos, que podem ser encontrados na faixa de R$17 e que possuem em seu processo de fabricação menos emissões. Para saber mais sobre o processo de fabricação ecológica de blocos ecológicos, leia este artigo.

É necessário um cálculo minucioso quando aplicado em planos com altura superior a 3 metros. Uma parede de cobogó não deve substituir qualquer parede de alvenaria, pois não é indicado em caso de grandes cargas de compressão.

Normas Técnicas Relacionadas à Cobogós

  • NBR 05712, que trata de blocos vazados modulares de concreto.
  • NBR 07173, que orienta no uso de blocos de concreto simples sem função estrutural.
  • NBR 07184, que fornece parâmetros para determinar a resistência e compressão.

O sucesso do cobogó também depende da orientação solar e das correntes de ar. Para orientar o desempenho térmico e a iluminância dos ambientes, contamos com as normas:

  • NBR 15220, que fornece instruções para análises térmicas em fachadas ventiladas
  • NBR 8995, que informa níveis mínimos de iluminação de acordo com a atividade e função do ambiente.

Grandes Exemplos de Cobogó

Casa Cobogó, por Márcio Kogan

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Residência Los Algarrobos / MasFernandez Arquitectos + Claudio Tapia

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Em meio aos cheios e vazios, entre paginação e composição, uma parede de cobogós concebe formas e gera plasticidade. Além da diversidade dos materiais é imensa a variedade de cores e formas, sendo possível brincar com a criatividade empregando personalidade em seu projeto.

Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), por Oscar Niemeyer:

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A Relação do Cobogó com o Clima

Como cobogós são elementos de controle solar, age filtrando a incidência da radiação e correntes de ar. Entendendo isso, deve-se atentar para a região e o clima onde se pretende trabalhar com esses elementos.

Pode ser utilizado como uma excelente estratégia bioclimática para regiões com climas equatoriais, tropicais e subtropicais. É muito útil na resolução de problemas termo-higroscópicos.

Em climas frios, onde se admite a insolação, ou secos, onde a qualidade do ar é imprópria, não se recomenda a aplicação em fachadas, pois considerando os condicionantes, o cobogó pode tornar-se um adversário.

Deve-se tomar cuidado com a aplicação de cobogós de formas duvidosas e principalmente cobogós em vidro. Apesar de parecerem interessantes à primeira vista, podem não cumprir seu papel de gerar ventilação e ao mesmo tempo sombreamento. Logo, pode gerar mais iluminação do que o necessário, comprometendo o conforto lumínico e até mesmo térmico da edificação.

Alguns Usos Para o Cobogó

Os cobogós podem ser utilizados para praticamente qualquer tipo de superfície. Porém, estas são as aplicações mais comuns:

  • Fachadas: É o modo de uso mais tradicional. Se implementado da forma certa, é obtido o misto de ventilação natural e iluminação no ambiente.
  • Hall de Entrada em Casas ou Escritórios: permite transparência e uma boa transição visual do ambiente público para o privado.
  • Muros: é aplicável em perímetros menos extensos em regiões mais tranquilas, gerando um visual diferenciado.
  • Banheiros: geralmente aplicável em box de banheiros. Porém, deve se tomar cuidado para não ocasionar vazamentos para o piso do banheiro.
  • Cozinhas: geralmente utilizadas em bancadas ou transições entre espaços.
  • Quartos: permite a transição entre uma áreas mais íntimas. Abaixo um exemplo aplicado pela arquiteta Flávia Kloss de Curitiba:

Cuidados Com o Cobogó

Projetar com cobogós requerem cuidados bastante especiais. Veja alguns abaixo:

  • Certos modelos de cobogó podem acumular poeira e até mesmo mofo. Portanto, realize limpezas periódicas tanto internamente quanto na parte externa.
  • Em climas frios, o cuidado com o uso do elemento deve ser maior. É provável que o elemento não obtenha o resultado esperado nestes climas.
  • Como os cobogós reduzem a luminosidade, o posicionamento correto é crucial. Em alguns casos podemos optar por vazios maiores, mantendo o conceito e aumentando a taxa de iluminação.
  • No caso do uso de cobogós para proteger equipamentos, é necessário deixar espaços para o acesso a manutenção.
  • No caso de uma reutilização, é necessário a remoção com extremo cuidado. Muitas peças são frágeis e podem sofrer ruptura quando desconectadas da argamassa.

Cobogó: Um Triunfo da Arquitetura Sustentável

Entendemos que o cobogó é um grande triunfo das edificações sustentáveis e da arquitetura brasileira. É um ótimo aliado nas regiões quentes com presença de umidade e fortalece inclusive o design de interiores.

Compreendemos que quando bem empregado, torna-se um avanço nas estratégias bioclimáticas. Sua participação em um projeto é a prova do uso racional nas tecnologias construtivas.

Emprega beleza, plasticidade e controle de recursos naturais, distribuindo luz do sol e permitindo a circulação do ar.

Sua competência é comprovada por grandes nomes da arquitetura, capaz de garantir sucesso na qualidade espacial e no conforto ambiental. É um fenômeno arquitetônico tipicamente brasileiro.

Referências

Araújo, M. R.; Gonçalves, V.; Cabús, R. ANÁLISE DA LUZ NATURAL A PARTIR DE ELEMENTOS VAZADOS. IX Encontro Nacional e V Latino Americano de Conforto no Ambiente Construído, Ouro Preto, p. 96-102. 2007.

Marçal, V. G.; Soares, G. B. N.; Souza, H. A. ANÁLISE DE ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS: Cobogós e Fachadas Ventiladas. XII Encontro Nacional e VIII Latino Americano de Conforto no Ambiente Construído, Brasília, p. 02-10. 2013.